Nesse último sábado (16), considerando
algumas respostas desencontradas para uma simples pergunta feita por mim,
conversei - ainda que de forma superficial - com os que foram para a sede,
sobre alguns valores importantes para o bom desenvolvimento relacional entre
aqueles que se consideram pertencentes a algo que se possa considerar um
grupo. Nesse contexto, pelo que eu pude perceber, creio que o ponto alto da
conversa foi quando manifestei a possibilidade real não fazer mais parte do
grupo que eu mesmo idealizei, já que o incomodado sou eu.
Como eu sei que geralmente eu sou muito
pouco entendido, resolvi escrever sobre o assunto para tratar um pouco mais
acerca dos valores discutidos na ocasião. Para tanto, como é de meu costume,
vou fazer uma analogia com um assunto que frequentemente gera conflito e
polêmica: religião.
Para começar, eu não sou ateu, mas não
pertenço a nenhuma religião. Já professei uma ou duas, mas me libertei disso
já faz algum tempo.
Afirmo isso porque religião, basicamente,
se traduz em um corpo de doutrina – que é o que determina o quê pode e o quê
não se pode fazer – e sua liturgia que servem, dependendo principalmente de
como é compreendida pelo religioso que a professa, para aplacar uma suposta
ira divina ou ainda receber favores por parte de determinada divindade. Ou
seja, ou é para ficar quites ou é para fazer algum tipo de troca com o
divino e nesse sentido, em qualquer um dos modelos citados, o homem é sempre
menor do que aquilo que ele professa. Minha pergunta é a seguinte: é o homem
que deve servir para beneficiar a religião ou é a religião que deve servir
para o benefício do homem?
Sem ter a pretensão de desconsiderar os
desdobramentos que esse assunto pode apresentar, volto a falar de capoeira
propondo, por analogia, a mesma pergunta: é o capoeirista que deve
servir para o benefício da capoeira (ou de um grupo) ou é a capoeira (ou
grupo) que deve servir para o benefício daquele que a pratica (ou daquele
que ao grupo pertence)?
Em minha opinião, a resposta - tanto a
respeito da religião quanto a respeito da capoeira e/ou grupo – infelizmente
acaba dependendo do seguinte fator: se ao responder a pergunta proposta a
pessoa pensar nela mesma, a tendência é concordar com a segunda hipótese
implícita na pergunta (aquela que sugere que a religião ou capoeira deve
beneficiar o homem). Agora, quando aquele que responde pensa nos outros, a
primeira hipótese (do dever do homem em servir) normalmente é a que impera!
Esse fio condutor egoísta é que
inviabiliza o desenvolvimento de qualquer relação de igualdade e
fraternidade dentro de qualquer esfera social e é evidente que a nossa
capoeira está incluída nesse contexto.
Eu só posso me limitar a responder pelo
grupo que um dia eu idealizei e, nesse caso, eu afirmo que o que eu quero
não é estabelecer um corpo de doutrina para ser seguido à risca, mas sim
formar uma consciência coletiva fraternal.
Provavelmente devo continuar escrevendo
sobre isso nos próximos textos. Porém, se o amigo leitor que é pertencente a
esse ajuntamento circunstancial de pessoas que foi idealizado por mim e que
é denominado hoje em dia de Grupo Capoeira Santista não entendeu as
comparações que eu fiz ou o conteúdo daquilo que eu escrevi até aqui, só me
resta lamentar e me convencer de que aquilo que eu idealizei desde o começo
realmente é impraticável.
Está dito.
Mestre Ribas
Santos, 21 de maio de 2009.
Site criado por Nilton Ribas Martins Júnior
Idealizador e fundador do Grupo Capoeira Santista